Podem-me chamar homem exemplar
Podem admitir que sonham ser como eu
Eu nasci para dar, e dar, e dar
Eu serei o homem que de tanto dar, morreu
Eu dou e dou e dou, não consigo parar
Eu nasci para dar e dar e dar
Embate explosivo, nasci para dar e dar
Eu explodo e mando-te pelo ar
Eu nasci para dar e dar e dar
Eu vou ser o homem que mais deu
Eu vivo apenas a dar e dar e dar
Serei o único que enquanto estava a dar morreu
Eu já dei tanto, e penso continuar
Eu sou o homem que nasceu para dar e dar e dar
De tudo o que já foi dado, não me lembro nem de metade
Porque quando dava, dava mesmo, dava com vontade
Dava com vontade porque é assim que se deve mandar
Porque eu sou o homem que nasceu para dar e dar e dar
Chama-me feiticeiro por dar o dia inteiro
Mas quando dou ceifo-te as searas, sou ceifeiro
Efeitos visuais ceifados espalhados pelo ar
E ceifo e ceifo e ceifo, porque nasci para dar
Ainda me falta dar tanto
Ainda há tanta coisa que não tenho para dar
Mas quando tiver, decerto que darei
Porque nasci para dar e dar e dar
Eu não quero saber do que tenho de fazer
Quero saber de dar até morrer
Quero saber de dar até não poder
Quero saber de dar e dar e dar até doer
Quero dar, dou como tu gostas
Dar dou pela frente, e falta ar se dou pelas costas
Enquanto te queixas por eu dar tanto
Eu vou dar para outro canto
Vou dando andando entretanto
Eu dou nas asas demoniacas de um santo
Eu dou nas asas de voar
Nasci para dar e dar e dar
Tenho instintos de assassino
Nascido para matar
Mas não chego a matar tanto como dou
Porque quando dou é mesmo para dar
Mas gosto de ver pornografia
Em dias de maior melancolia, alivia
Levanto-me de bandeira içada e abro a breguilha
E dou e dou e dou na bilha
Dou na bilha de gaz
Gasifico-me para outra ilha
Dou para onde ninguém me pode chatear
Porque odeio quando se metem e eu estou a dar e dar e dar
Eu sou lixado, o mais lixado
Dos que podes ter o que te deixa mais no estado molhado
Porque dou e dou e dou
E dou conta do recado
Recadinhos e pombos correio nunca me impressionam
Pombinhos que me ensonam
Que dormem e ressonam mas não adiantam muito
Estamos num mundo demasiado atrasado
Ou fui eu que nasci no século errado
Enviado do futuro, não sei como cá vim parar
Sei apenas que vim para dar e dar e dar
Sou selvagem, sou viciante e vicioso
Sou quem dá e dá, dou mas é perigoso
Mas sou teimoso
Não sou facil de aturar
Mas atura-se mais facil na base do dar e dar e dar
Irrequietação impossivel de conceber
Tanta adjectivação por fazer
Tanta coisa se podia dizer
Mas ninguém diz
Não há coragem para falar
Chumbado no teste de imaginar
Não me imagino sem dar e dar e dar
Eu passo ao teste
Infecto-te com afecto como a peste
Tenta la chegar
A dar e dar e dar
Cura-te com o remédio a injectar
Injecto-te por onde calha
Entre as rochas ou monte de palha
Nem importa muito o lugar
Importa sim..
Dar e Dar e Dar.
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